15°C 34°C
Coxim, MS

Tragédia rara no Pantanal: caseiro é morto por onça, mas ataques como esse são exceções, dizem especialistas

Mosquitos, escorpiões e cães domésticos causam muito mais mortes no Brasil

22/04/2025 às 17h02
Por: Vanessa Ferreira
Compartilhe:
O caseiro Jorge Avalo, de 60 anos, foi morto por uma onça-pintada nesta segunda-feira (21)
O caseiro Jorge Avalo, de 60 anos, foi morto por uma onça-pintada nesta segunda-feira (21)

A tranquilidade do Pantanal sul-mato-grossense foi interrompida por uma tragédia que chocou a comunidade local: o caseiro Jorge Avalo, de 60 anos, foi morto por uma onça-pintada nesta segunda-feira (21), às margens do rio Miranda, em uma região conhecida como Touro Morto, no município de Aquidauana.

O corpo de Jorge foi localizado nesta terça-feira (22) por equipes da Polícia Militar Ambiental (PMA), com o apoio de helicópteros e drones. Partes da vítima foram encontradas em uma toca da onça, a cerca de 300 metros do local do ataque. Jorge trabalhava em um pesqueiro e, segundo informações da polícia, estava sozinho no momento em que foi surpreendido pelo felino.

Investigação aponta ataque de onça

Ao lado de restos mortais da vítima, foram encontradas pegadas do animal, que reforçam a suspeita de que o ataque foi feito por uma onça-pintada adulta. A PMA, que liderou as buscas com auxílio de familiares da vítima, informou que a área é de difícil acesso e exigiu o uso de tecnologias como drones térmicos para vasculhar a mata fechada.

O corpo foi recolhido e encaminhado ao Núcleo Regional de Medicina Legal de Aquidauana para os procedimentos periciais. A funerária de plantão da cidade também foi acionada.

Ataques de onça são raros, mas causam comoção por sua brutalidade visual

Apesar do impacto emocional que ataques como este causam na população, especialistas em fauna silvestre e comportamento animal reforçam que onças não veem seres humanos como presas naturais. Ou seja, não fazem parte da cadeia alimentar desses felinos.

“As onças evitam contato com humanos. Quando ocorrem ataques, geralmente estão associados a situações muito específicas, como defesa de território, filhotes ou surpresa em ambientes isolados”, explica a bióloga Renata Vasques, pesquisadora de grandes felinos.

Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), os ataques de onça a humanos são extremamente raros no Brasil, especialmente quando comparados com outras espécies animais que, silenciosamente, causam milhares de mortes por ano.

Mais perigosos que a onça: mosquito, escorpião e até cães domésticos

Os dados reforçam a raridade do episódio trágico ocorrido em Aquidauana. De acordo com o Ministério da Saúde:Mosquitos transmissores da dengue, zika e chikungunya são responsáveis por centenas de mortes anuais no país; Escorpiões matam, em média, 150 pessoas por ano no Brasil;

Até mesmo cães domésticos representam risco: a raiva canina ainda mata e, segundo registros, mais pessoas são atacadas por cães do que por qualquer felino silvestre.

“O número de mortes causadas por grandes felinos no Brasil é infinitamente menor do que o causado por animais que nem são vistos como ameaça imediata. O problema é que o ataque de uma onça é mais visualmente chocante e, por isso, causa mais comoção”, afirma o ecólogo Pedro Leal, do projeto Onças do Rio Negro.

Luto e comoção em Aquidauana

A comunidade pantaneira está em choque com a morte de Jorge Avalo. Ele era conhecido e querido pelos moradores da região e por turistas que frequentam o pesqueiro onde trabalhava.

As autoridades não divulgaram se haverá medidas específicas quanto à onça envolvida no ataque, mas reforçaram que o caso está sendo acompanhado de perto por técnicos do meio ambiente e peritos.

Apesar da tragédia, especialistas fazem um apelo: que o caso seja tratado com equilíbrio e responsabilidade, sem demonizar um dos animais mais importantes para o ecossistema brasileiro. A convivência harmoniosa entre homem e natureza ainda é possível — e essencial.

* O conteúdo de cada comentário é de responsabilidade de quem realizá-lo. Nos reservamos ao direito de reprovar ou eliminar comentários em desacordo com o propósito do site ou que contenham palavras ofensivas.
500 caracteres restantes.
Comentar
Mostrar mais comentários